História da família Goya

História da família Goya

Por Claudia Goya Medvid

Quando viajei para Okinawa conheci um lugar lindo, era lá no alto, um campo extenso verdinho e as flores coloridas espalhadas se movimentavam com a brisa do vento; davam um ar de muita paz. Porém, impossível de imaginar que naquele local muitos okinawanos morreram, pois eram encurralados pelos soldados americanos e de forma terrível, os japoneses pulavam daquele penhasco que terminava no mar, para não serem presos pelos soldados, morriam afogados.

Tentava imaginar o sofrimento de todos aqueles que viveram naquela época, suas angústias, as dores das separações, suas solidões.

Próximo dali uma outra área tão extensa como aquele campo, porém, com inúmeras pedras de granito enfileiradas, com a descrição de todos os nomes daqueles que morreram naquela terrível guerra. Eram muitas pedras, tentei achar meu sobrenome Goya, porém, como era tudo em kanji e muitos nomes descritos, não consegui achar. Mas com certeza estava em algum lugar, era a história da minha família, a minha história.

Sei que tanto da parte do meu pai como da minha mãe, são descendentes da ilha de Okinawa, então, provavelmente foram os sobreviventes daquela guerra que vieram do Japão ao Brasil que aqui se conheceram, se casaram e deram início a uma nova geração de okinawanos, porém agora, nesta nova terra, e hoje apesar de sermos brasileiros e exteriormente termos só olhos puxados e o cabelo liso, a essência do ikigai é muito forte em minha família.

Uma das características mais marcantes do meu pai, e pensando bem de toda família Goya é o sorriso no rosto. Parece que ninguém tem problemas ou dificuldades na vida, com certeza não é isso, quem não tem problemas na vida? Mas é um dom que eu herdei de graça. Fazendo memória, lembro da minha Oba de casa, avó do meu pai, era assim que era chamada, porque ficava em casa, a outra Oba, mãe do meu pai, trabalhava na feira, era Oba de feira. Kame Goya, veio de Okinawa no navio Hawaii Maru, em 24/05/1918. Era baixinha, gordinha, cabelos branquinhos, nariz chato, olhos redondos, pele escura, e aquelas sobrancelhas que todo uchinantchu tem. Essa era feliz, mas braba. Autoritária que só ela, queria saber de tudo e mandava em tudo. Tinha até sua cadeira na posição central da cozinha, de lá enxergava tudo, ah, se alguém fizesse algo que não era do seu agrado, era pito na hora. Eu, meus irmãos e meus primos de Prudente, fazíamos a maior bagunça naquela casa de madeira, que hoje não parece tão grande como era, principalmente aquele corredor comprido que dava na sala. A Oba de casa plantava de tudo, tinha aquelas plantas, flores e hortaliças, típicas de Okinawa.

Lá no quintal tinha galinhas, pintinhos, patos.... acho que era tudo pra consumo, um dia eu a vi estrangulando uma galinha ou galo, torceu o pescoço e tirou sangue pra fazer chouriço. A Oba era muito forte, sempre fazia algo na casa e quando tocava aquelas músicas de Okinawa dançava daquele jeito com as mãos dobradas para cima, ou apoiadas no quadril, uma graça!  Só Deus sabe quanta luta até chegar onde chegou. Criou todos os filhos no Brasil, e hoje nossa geração cresceu tanto, que até sobrenome de alguns mudou, Goyo, erraram na certidão, mas são todos parentes.

 

Sou muito grata a Deus por esses primeiros que por necessidade, deixaram sua pátria e nem sabiam o que viria pela frente. Mas hoje somos um povo privilegiado, porque quando se fala de japonês, todos admiram, pela dedicação, seriedade, compromisso e nobreza.

 

Domo arigato gosaimassu!!!!

 

Fonte de consulta:

http://www.museubunkyo.org.br/ashiato/web2/imigrantes.asp